Zita Seabra celebra os 50 anos do 25 de Abril com reedição
"Eu tenho muito orgulho em ter participado na luta
pelo fim da ditadura e ninguém me tira isso, e tenho muita satisfação em dizer
aos jovens que se alguma vez a democracia estiver em perigo, lutem pela
liberdade", disse Zita Seabra no relançamento do seu livro Foi
Assim.
Beatriz Veloso | 15:15

No mês em que se celebra mais um ano do 25 de Abril, Zita Seabra recuou 50 anos e recordou os momentos de clandestinidade e liberdade.
Foi no passado dia 13 de Abril que a autora apresentou a nova reedição do livro "Foi Assim", numa Book Talks com lugar na Fnac do Norte Shopping.
Publicado pela primeira vez em 2007, "Foi Assim" é uma biografia política da escritora, editora e jornalista.
Foi em tema de conversa que Zita relembrou o seu passado e o do país, numa viagem no tempo em que regressou aos dias da clandestinidade e da sua militância no PCP, passando pela sua expulsão do partido e pela reviravolta profissional.
"Eu tenho muito orgulho em ter participado na luta pelo fim da ditadura e ninguém me tira isso, e tenho muita satisfação em dizer aos jovens se alguma vez a democracia estiver em perigo lutem pela liberdade, não há nada mais importante na vida do que vivermos num país livre, onde não há censura, não há pide, não há repressão, onde se pode exprimir livremente, onde a gente pode mudar de partido se quiser, isso é um bem que não tem preço"
Apesar de recordar com orgulho os tempos de revolução, afirma que refazer a sua vida após a expulsão do PCP "foi muito duro(...)tinha quatro páginas do avante com a acusação que me faziam" e revelou que encontrar emprego foi desafiante pois "Não sabia fazer nada, não tinha profissão, só sabia fazer revoluções, nunca tinha propriamente trabalhado."
Entre as muitas pessoas que ajudaram a autora no momento após a sua expulsão, esta recordouMário Soares e afirmou que a "ajudou muito, em muitos aspetos".
"Foi ele que me aconselhou. Ajudou-me imenso a recriar a minha vida normal e a de outros comunistas que se solidarizarão comigo", disse a escritora.
Zita lembrou também o gradual afastamento do partido e frisou "Começa-se sempre (a ser dissidente) por querer democratizar o partido comunista, que foi o meu caso (...) eu quis democratizar e pedi ao PCP para ir de férias à União Soviética para conhecer melhor o que se passava com Perestroika e vim de lá absolutamente convencida que, na união soviética, o socialismo ia acabar"
Ao encontro da resposta da escritora, foi questionado o porquê de esta "não ter passado" para o partido socialista como foi costume dos dissidentes na Rússia, mas segundo a autora "o normal, na República Checa, na polónia, é passar para partidos liberais."
A escritora afirmou ainda que atualmente na europa "o que acontece é que crescem os radicalismos à esquerda e à direita e isso é perigoso." Em relação aPortugal diz que "há uma conivência com a esquerda radical que é dramática"
Em relação ao PCP, Zita disse "O facto de o partido comunista ter lutado contra a ditadura em Portugal não cria qualquer tipo de superioridade moral em relação às ditaduras comunistas que existem noutro países, onde morrem pessoas, onde são torturadas, são presas, numa herança terrível"
O encontro terminou com o mote que deu início à conversa, o atual momento político português e a guerra na Ucrânia que segundo Zita encaminha a sociedade para um "retrocesso civilizacional" e uma "situação delicada".
Nas suas projeções futuras, a autora destacou a emigração dos jovens em Portugal que considerou a maior urgência do país "porque tem a ver com a incapacidade de desenvolvimento económico e de produção", disse Zita.
Acrescenta que as pessoas têm de ver o lucro e as empresas "como uma coisa boa" e "não só para o Estado".